Óculos
Hoje usar óculos é cult e atraente, mas em minha infância e adolescência não. Enquanto Paralamas fazia sucesso com o hit “Óculos” (“porque vc não olha pra mim, ôô...”) eu me sentia excluída e esquisita por usar lentes desde os 8 anos. Tudo bem que os óculos com armação de acrílico marrom da época não ajudavam, mas o mundo era injusto comigo (mundo de adolescente = garotos). Os moleques me chamavam de quatro olho, Olívia Palito, esquisita, os melhores diziam que eu era feia, mas engraçada. Eu conversava muito e tinha tiradas legais, mas sabia que eles não tinham atração por mim. Contava pontos ser gente boa, inteligente, espirituosa, mas só como amiga.
Penso que as lentes dos óculos tiveram muito reflexo em minha postura perante os homens. Desde cedo, fui convencida de que não tinha beleza. Que não aproximaria homens por encanto ou charme. Eu era a esquisita, alta demais, CDF (nunca pegava recuperação), andava com uma turma de meninas mais esquisitas ainda. Sônia que talvez seja lésbica; Josi, cabelos vermelhos, pernas lindas com pelos descoloridos, muito pra frente e a única que já tinha feito sexo; Gabi, ombros largos demais por causa da natação, era considerada um pouco gordinha; e a Andressa, uma adolescente negra, muito meiga e com jeito de criança, a mais pobre entre nós. Enquanto a paquera rolava solta na hora do recreio, cinco garotas sentavam-se em roda e ficavam conversando coisas de criança, sem interagir com ninguém nem se preocupar em ser populares. Foi saudável e seguro.
Hoje, ainda, me sinto uma adolescente perto de um homem. Quase sempre me esqueço de tudo o que já vivi, de quanto alguns homens já me amaram, e volto a ser a garota insegura e inexperiente de 20 anos atrás. Cheguei a ter 10 graus de miopia. Há 3 anos, fiz a cirurgia de correção, um sonho antigo. Mas ainda preciso de ajuda de lentes para olhar para mim.
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