Aborto: como é ser mãe no Brasil

Antes de qualquer discussão moral ou fora da realidade, é preciso discutir a fundo o que é ser mãe em nosso País

Monumento Mãe Preta, SP. Foto: Gabriela Mo.

As pesquisas mostram que a maioria das que fazem aborto não são as adolescentes. São as mulheres que já tem filho (em geral mais de um). Não são as que não querem nunca ter um filho, até porque essas em geral são as que mais se previnem.

A realidade mostra que o aborto não é uma escolha entre estudar e ser mãe, entre cuidar de si e ser mãe, como muitos fazem parecer. É fruto de uma experiência muito, muito difícil, que é ser mãe num país onde não existem condições para as mães e seus filhos.

Nunca vou me esquecer de uma roda de conversa com as mulheres de uma ocupação urbana no Barreiro (salve Camilo Torres!). O tema da noite era maternidade e cada mulher tinha que dizer, rápido, uma palavra relacionada a ser mãe. Adivinhem o que saiu: a mais dura realidade, todas as angústias, medos, problemas. Eu, com meu barrigão de 7 meses, fiquei assustada.

Depois de 8 anos, descobri que a maternidade romântica, cristã, de novela, não existe para a maioria das brasileiras. Também não existiu pra mim, que tenho uma vida boa, emprego, apoio da família. Imagina para a maioria!

Antes de obrigar as mulheres a terem filhos sob pena de serem presas, machucadas, mortas e culpadas, como é hoje, precisamos pensar: o que nosso país oferece para as mães? Nada!! Não tem berçário e creche suficientes e em período integral para os filhos; a maioria das empresas demitem ou não contratam mulheres com filhos pequenos. A culpa, a violência do tráfico, os problemas da saúde, da educação, tudo recai sobre a mulher. Ser mãe é algo muito solitário, psicológica e socialmente. A decisão, portanto, precisa ser da mulher.

Aos homens pergunto: quantos gostam se usar camisinha? Quantos compartilham a responsabilidade de se prevenir com a companheira? Quantos conhecem como funciona o corpo feminino? Quantos discutem com a namorada o melhor método de prevenção? Por conta da ignorância e do machismo, quantos ainda continuam fazendo filhos, formando e rompendo famílias, pagando uma pensãozinha e ainda reclamando?

Antes de formar opinião, você pode pesquisar: existem países que estimulam a maternidade com coisas concretas, não com acusações. Existem países onde o aborto foi legalizado e diminuiu. No passado, o cristianismo já aceitou o aborto - aliás, o "direito à vida" sempre foi bastante relativo na história do cristianismo... 

Mesmo nos países onde o aborto é legal, seguro e gratuito, ele nunca será livre de dor...

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