Bancárias e mães em home office

Não é fácil ser mãe e trabalhadora durante a pandemia, no País que é o epicentro mundial de contágios. E mais: ser mulher e estar em home office, como é o caso de muitas bancarias, não é para qualquer um. Sem escolas e creches funcionando, é um desafio grande trabalhar, fazer o serviço de casa (que aliás ficou bem maior), cuidar e dar atenção aos filhos. As crianças novinhas exigem cuidado integral, as maiores, criatividade e paciência para ajudar com os estudos online, quando existem. Isso tudo às vezes sem ajuda de outro adulto - lembremos que 20% dos lares brasileiros são monoparentais e 40% dirigidos por mulheres.

O fato é que, no home office, as mulheres têm muito mais dificuldade de se impor e fazer a família entender que o tempo de trabalho não pode ser interrompido ou deixado para depois. Todos os pais e mães estão vivendo isso, mas as mulheres estão ainda mais sobrecarregadas. Afinal, nosso papel social mais arraigado é o cuidar, o servir, certo? A culpa, o machismo, a falta de estrutura, tudo isso está deixando as mulheres muito mais exaustas nessa quarentena.

Os bancos e demais empresas agora alardeiam as grandes vantagens do home office! Porém, o que propositalmente esquecem é que a maioria dos lares não tem isolamento e ambiente dedicado ao trabalho, sem contar equipamentos, móveis e a segurança pessoal necessária, por exemplo, ao serviço bancário (tudo conquistado com muita luta). O que muitas empresas e chefes não percebem é que trabalhar em casa exige boas condições, ainda mais peculiares no caso das mulheres com filhos.

Nos bancos, o afastamento do trabalho foi garantido aos funcionários do grupo de risco (estendido em alguns bancos às lactantes, pessoas com deficiência e aos que residem com alguém do grupo de risco). Em alguns também há rodízio, que deveria ser ampliado a todos os bancos. Essas medidas são um direito que protege a saúde e a vida dos que são mais frágeis ao Covid-19. Porém, internamente bancos e chefes tratam o home office como uma concessão que pode ser retirada a qualquer momento, numa lógica de gestão que só funciona por meio do assédio. Parece mais fácil exigir “performance” quando as condições de trabalho não são compartilhadas, mas entram na esfera doméstica como “problema exclusivo do empregado”. Não é o momento para altas metas e cobranças no setor que mais lucrou no País durante os últimos 20 anos.

O que nós bancárias, mulheres e mães, queremos dizer é que o home office não é necessariamente vantajoso aos trabalhadores. Também afirmamos que, sem as condições adequadas, o trabalho não será eficiente – ou será eficiente às custas da saúde mental e física dos trabalhadores, especialmente das mulheres.

(texto escrito para a página Bancários de BH e Região, em 30/06/2020, com contribuições de colegas)

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