É tempo


É tempo de sonho recolhido,
lembrança e reflexão.
E de tecer nas sombras
um casulo
ou uma armadura,
quem sabe uma canção.


É tempo de ficar atento
pra gestos, bichos, bueiros,
direção do vento.
É tempo de ouvir:
qualquer ruído saído das gargantas
pode significar algo.


É época de olhares baixos,
ódios expostos,
sorrisos com pouca alegria,
E uma vontade louca
de amar, ou se refugiar
(livros ou novelas, tanto faz)


Pelos céus do triste país
passam fumaças escuras,
estouram tempestades estrondosas.
A noite é abafada e cheira
a lixo e a enxofre.


É tempo de fazer barricadas
e nela recolher restos:
de comida, esperança e amigos.
Construir castelos de lona
com vasinhos de flor,
manter mãos apertadas
(em espera pelo que for).

Por Lívia Furtado, algum dia nos últimos tempos


Obs: Carlos Drummond de Andrade, meu poeta de cabeceira, possui um poema (mil vezes melhor que este) chamado "Nosso tempo". Este é apenas um exemplo de como ele me inspira e influencia. Dizem que assimilamos jeitos de escrever e falar daqueles com quem convivemos muito né?

Um dos trechos desse poema que amo é assim:

"Em vão percorremos volumes,
viajamos e nos colorimos.
A hora pressentida esmigalha-se em pó na rua.
Os homens pedem carne. Fogo. Sapatos.
As leis não bastam. Os lírios não nascem
da lei. Meu nome é tumulto, e escreve-se
na pedra."

(em breve tem mais sobre Drummond por aqui...)


A ira das mães - Candido Portinari, 1942 (recorte meu)


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