Sozinhos
Desde o princípio a solidão já me desenhava
As brincadeiras de infância no
silencio do quarto à tarde
O medo dos outros na hora do
recreio
Fui uma criança sozinha
Os irmãos pequenos demais pra mim
Os adultos, mãe e pai, cada um na
sua solidão
Quando fui crescendo, tentei ser
o oposto disso
Num soco surdo contra mim mesma
Porém agora, em meu filho, vejo
meu destino só.
Ele também, desde o início, se
desenhou em mim só e único
Na noite em que soube que estava
gravida sem querer
Eu sofri sozinha, na antiga casa
dos meus avós.
Nossos primeiros meses juntos
Também foram sós
Na descoberta conjunta do amor,
da dor, da desilusão.
As lágrimas contidas, nenhum
irmão, nenhum bicho, vizinho
Ou amor pra vida toda
Tudo só, num mundo sem futuro ou
garantias.
As plantas silenciosas, a sala
escura, a noite sombria, sem ar
A culpa, a escolha errada, o peso
do mundo
A criança sozinha dormindo,
enquanto a mãe escreve e não para de fumar.
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