Sobre uma facada pré-eleição
Não vou falar de Bolsonaro. Ele já tem audiência demais. A intenção é discutir ideias. Vou falar de algo que ouço de alguns de seus eleitores ou simpatizantes. O problema dos direitos humanos. Para muitos, esse é um mal que está em nossa Constituição, fruto da influência da esquerda e dos comunistas. Pessoas comuns e trabalhadoras têm dito isso. As confusões são muitas e vou dialogar com isso.
Em primeiro lugar, os direitos humanos devem ser para todos. Não existem mais humanos e menos humanos. Eu por exemplo acho que as ideias de Bolsonaro são um horror, mas fruto do nosso tempo e uma tendência mundial. Como pessoa, acho ele bastante desumano (e sua falta de solidariedade diante de crimes e agressões a outros demonstra isso). Porém, defendo que tenha todos os direitos garantidos: à vida, à participação política, a um bom atendimento no hospital, à dignidade e integridade de seu corpo e sua mente. No mínimo, que não tome facadas durante a campanha.
Ou seja, os direitos humanos não se aplicam somente de acordo com o que a pessoa é, faz ou diz, e se concordamos ou não com isso. Devem ser algo inerente ao ser social que somos e garantido pelo Estado (pelo menos no conceito).
A ideologia difundida com força pela extrema-direita no Brasil cria uma segunda categoria: a de pessoas que podem/devem morrer ou ter seus direitos feridos. Sob o ponto de vista de quem? De quem governa e detém o poder, daqueles que se proclamam “homens de bem” e prometem colocar tudo em ordem.
Para esses, podem morrer criminosos, traficantes, sem terra, esquerdistas, indígenas, quilombolas, gays ou jovens negros que estão no tráfico. Mulheres também, se estas não se comportarem como devem. Esses são os grupos de subumanos ou “candidatos a” isso, nessa concepção. Não são pessoas, fruto dessa sociedade e criados por nós, mas problemas que devem ser excluídos para tudo ficar em ordem. A histórica e perigosa tendência de encontrar culpados em um momento de crise... culpados que não sejamos nós!
Com esses pensamentos, confortáveis para alguns, corre-se o risco não só de eleger um candidato errado – aliás como sempre fizemos – mas de se corroer o mínimo direito que foi construído até agora no País, DENTRO CAPITALISMO. Voltaremos a um Brasil de 150 anos atrás, com execuções públicas? Vamos matar de novo COM a proteção do estado? Mas peraí: e quando o “eles” virar “nós”?
Sei que para uma parte dos brasileiros esses “direitos humanos” nunca saíram do papel. O Brasil, além de muito desigual, é famoso pelo excesso de mortes de mulheres, LGBTs e de lideranças indígenas e campesinas devido a problemas fundiários. Não é que eles tenham seu direito garantido, pelo contrário, estão correndo riscos e morrendo, muitos pelas mãos do Estado. Nossos jovens negros estão sendo assassinados. A polícia no Brasil é das que mais mata e mais morre também.
Ou seja, pessoas demais estão vivendo e morrendo sem nenhum direito. Vamos fortalecer isso? A selvageria interessa a quem?
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