João Alberto, mais um morto pelo racismo

Mais uma pessoa negra morta com violência. Desta vez, as imagens chocaram pela crueldade dos seguranças e da funcionária do Carrefour que filmava.

A polícia apurou, João Alberto estava nervoso no supermercado e parece ter discutido com a caixa. Uma situação banal, corriqueira no atendimento ao público. Que problemas ele poderia ter? Nervoso com os olhos que o vigiavam? O preço estava diferente na prateleira? O cartão não passou? Que problemas teria na cabeça? Sabe aqueles dias difíceis em que é melhor nem acordar? Talvez aquele 19 de novembro fosse um dia assim pra ele.

Quando penso em João Alberto, vêm à minha cabeça situações que vivi como atendente e caixa de um banco. Já disse em outro post como os homens brancos, de 40 a 70 anos, bem vestidos e bem alimentados, têm uma arrogância bem acima da média. Eu, uma mera caixa de banco público (que, para eles, nem deveria existir) já fui tratada com muito desrespeito por homens assim. Homens maduros em que toda a arrogância dos sucessos e a mágoa dos fracassos parecia aflorar em raiva e preconceitos.

Então, transfiro esse perfil de homem branco e bem vestido pro supermercado. Ele seria possivelmente vigiado pelos funcionários? Como ele trataria uma caixa de supermercado? E o mais importante: ele seria seguido, agredido e morto pelos seguranças? Se João Alberto fosse branco, arrogante, machista e tratasse mal a funcionária que pra ele é ninguém, teria sido estrangulado?

A resposta a isso determina o quanto de racismo existe em nossas relações sociais e instituições.

As lojas do Carrefour foram alvos de protestos em Porto Alegre e em várias capitais. Ao meu ver, tinha que ser muito mais, tinha que ser como na morte de George Floyd nos EUA. O país pegar fogo contra o racismo. 

Há muitos protestos nas favelas, há velórios dolorosos que são um grito por luta. Há movimentos de mães por justiça pelo assassinato dos filhos, em geral crianças e jovens pretos, pelo Estado. Mas nada disso é discutido a fundo e há ainda espaço para os que negam o racismo e justificam a violência. Ah, eles estão no governo. O Brasil me assusta cada vez mais...

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