A rua nos falta
Aguentaremos até 2022? Há um número de mortes que esses monstros considerem inaceitável? Como vamos sair disso? Grande capital, militares, líderes do congresso, são todos cúmplices do assassinato em massa alimentado pelo governo. Já não tenho condições de raciocinar direito, só consigo sentir ódio e tristeza. Prometo a mim mesma não esquecer nenhum deles.
Olho o mundo em busca de esperança: no Paraguai, o povo de máscaras pede nas ruas a saída de um presidente incompetente para lidar com a pandemia. No Chile, um governo em permanente crise, com medo das ruas, está na dianteira da vacinação no continente. Nos EUA, as mobilizações do povo negro e da juventude ganharam ruas e mentes e ajudaram a derrubar a extrema-direita. Na Argentina, as milhares de manifestantes choraram juntas, em frente ao Parlamento, durante a aprovação (tão suada) da legalização do aborto. Em todos os lugares há algo em comum: a rua, aquele espaço comum onde a sociedade destrói o velho e cria o novo.
Foto: Flávio Tavares, jornal Hoje em Dia |
Aqui no Brasil a rua nos falta – é uma constatação. Nesse Carnaval, no 8 de março, em todos os momentos graves que vivemos, nos panelaços, carreatas, faltou pisar o chão e o asfalto, sentir a energia e a força do que somos lado a lado. A classe trabalhadora e as juventudes sem rua se encolhem, esquecem seu poder.
Não falo das ruas diárias de escravidão e desabrigo, em que temos nos arrastado sozinhos e assustados. Nem das ruas de praças bonitas, passeios largos, lojas brancas e silenciosas, onde se juntam supostos patriotas que perderam a alma pro diabo. Falo da rua da confusão, do batuque, do suor e da resistência, em que cabem conscientes e desvairados. As ruas de mercadorias penduradas, ambulantes, artesãos, pedintes, trabalhadores, loucos e perdidos de todo tipo. As ruas de mil cores e cheiros – de gente, lixo, comida e pastel frito. Cheiros da humanidade.
Nesse um ano de pandemia, já quis muito poder assistir de novo a um bom show ao vivo. Agora sonho com marchas pela cidade, incêndios, tambores, sons de raiva ou amor. Quero olhar pro lado e ver de novo aquele morador de rua que acompanhava uma manifestação ao meu lado (serão muitos agora). E um monte de mulheres com roupas curtas, batons vermelhos, cabelos eriçados em liberdade. Quero ver mãos dadas ou em punho, barbas se roçando, jovens pulando, falando alto de guerra e vontade de mudar. Sonho em encontrar de novo pessoas sem origem, sem retoques, com rugas de cansaço e certo brilho no olhar.
Ah, como eu poderia andar quilômetros e quilômetros ao lado de brasileiros e brasileiras assim, carregá-los no colo, xingá-los, depois abraçá-los e chorar.
Estão adormecidos de medo mas hão de acordar, e que já não seja tarde.
ResponderExcluirNão me canso de reler esse grito pela união dado por um coração brasileiro.
ResponderExcluir