Pode haver poesia?
A poesia não vem mais me visitar
Como poderia?
Pode haver poesia depois de Auschwitz?
Como ela viria
se há apenas horror e susto dentro de mim?
Como ela viria se abro os olhos e
logo quero fechar
Se o belo pouco se entrevê
no intervalo entre tranquilizantes
Como poderia?
Pode haver poesia depois de Auschwitz?
Como ela viria
se há apenas horror e susto dentro de mim?
Como ela viria se abro os olhos e
logo quero fechar
Se o belo pouco se entrevê
no intervalo entre tranquilizantes
e espasmos de dor
Se o espírito se encolhe perante
os mil dentes sorridentes da morte.
Como pode haver poesia
Se o ar está irrespirável
de fumaça, ódio e putrefação?
Se a espécie que inventou deus e verbo
marcha para o fim,
escrava de sua criação.
Como dizer sobre o abstrato
Se cada palavra que vem à mente
tem peso e cor de chumbo,
cheiro de praga e coturno.
Não, já não se recitam poemas à cama
à mesa de bar, na carta à amiga querida.
Mensagens eletrônicas tristes e vazias
Dizem apenas: “tudo vai mal, não conte comigo”.
Contaminados pela grande desgraça que somos,
os mil dentes sorridentes da morte.
Como pode haver poesia
Se o ar está irrespirável
de fumaça, ódio e putrefação?
Se a espécie que inventou deus e verbo
marcha para o fim,
escrava de sua criação.
Como dizer sobre o abstrato
Se cada palavra que vem à mente
tem peso e cor de chumbo,
cheiro de praga e coturno.
Não, já não se recitam poemas à cama
à mesa de bar, na carta à amiga querida.
Mensagens eletrônicas tristes e vazias
Dizem apenas: “tudo vai mal, não conte comigo”.
Contaminados pela grande desgraça que somos,
como se pode fazer uma poesia
que não seja desesperada e suja,
um retrato de Auschwitz?
que não seja desesperada e suja,
um retrato de Auschwitz?
19/03/2021
Minha homenagem e profunda dor pelos 290.525 brasileiros mortos pela Covid-19, pela falta de vacinas e pela política assassina do governo federal de disseminar o vírus. Meu carinho a cada família que chora suas pessoas queridas.
Lágrimas, lágrimas...porque hoje em dia palavras tão belas tem que falar de coisas tão tristes.
ResponderExcluirOs poetas estão tristes
ResponderExcluireram tristes, irmãos da melancolia mas também da natureza florescente.
era a tristeza natural, irmã da poesia e de cantar: no final dava alegria ler e acompanhar.
Agora a natureza está raivosa, destruída e decadente. E o medo lacerante do que fizemos (ou não fizemos) está impresso em nossos olhos em nossos atos e em nossos poetas.
Eles estão tristes e a sua criação já quase não vem da melancolía, vem mais do desespero de ter que existir em um mundo inimaginável, onde já quase não se lê com alegria, onde as canções tornaram-se restos de um tempo feliz.
O mundo está triste.