Um trecho de Saramago

Saramago por Leandro Schenk

Desde uns 11 anos de idade tenho uma mania de anotar trechos de livros que leio – as partes mais poéticas, ou que mais me tocavam. Até hoje tenho cadernos e cadernos onde escrevia coisas minhas, copiava poemas e outras coisas. Toda vez que me mudo revejo tudo, releio, me encontro com o que fui.

Há uns anos anotei esse trecho de A Caverna, romance de José Saramago. Foi uma época muito difícil da minha vida e, sempre que acho que estou caindo, essas palavras me vêm à mente e me fazem bem (efeito que pode ser de utilidade pública nos dias de hoje). 

É assim:

“O que creio é que há ocasiões na vida em que devemos deixar-nos levar pela corrente do que acontece, como se as forças para lhe resistir nos faltassem, mas de súbito percebemos que o rio se pôs a nosso favor, ninguém mais deu por isso, só nós, quem olha julgará que estamos a ponto de naufragar e nunca nossa navegação foi tão firme.”

(sim, é escrito desse jeito sem ponto mesmo, uma das marcas desse escritor né?) 

P.S.: A caverna (2000) não é dos livros mais famosos do autor português, mas é maravilhoso demais e o meu preferido dele junto com outro, o Evangelho Segundo Jesus Cristo. Aliás, acho estranho que na época a crítica do livro não tenha sido tão boa. Estavam muito enganados esses críticos viu! Entendo que nesses grandes escritores há sempre algumas obras que sofrem com isso, por não se enquadrar nas enormes expectativas do público. A Caverna não lida tanto com o incrível como Ensaio sobre a Cegueira ou Jangada de Pedra. É uma história simples que fala sobre raízes, modernidade, perda da coletividade, solidão. Tem personagens bem mais profundos psicologicamente (o que gosto muuuuito) e uma importante crítica social. Recomendo demais!

Comentários

Postar um comentário

Postagens mais visitadas