Ah, o amor!

Relacionamento amoroso. Situação atual: não dispenso, mas também não faço questão. Muito bem analisado e pesado (com o tempo ficamos mais criteriosas), tem sido melhor ficar sozinha nos últimos tempos. Teve até um Dia dos Namorados em que pensei: “ufa, sem ninguém”! Às vezes sinto alívio ainda, porque já sou muito atarefada comigo e filho e casa e todos que amo demais, incluindo este país perdido coitado. Lógico que sempre cabe alguém no meu coração cheio de presságios. Mas depende muito. Explico.

Com os namoros depois da separação, descobri que namorar pode ser bem desgastante se você tem um filho (ou filhos) de outro homem (ou homens). Sério, me dá um cansaço mental só de lembrar: eu tinha poucos dias livres com a pessoa, os outros dias era com filho e a casa. Em alguns momentos, eu tinha duas vidas, uma pro namoro, outra pro filho, às vezes as duas se juntavam, as vezes não.

Acho que as mães solteiras com filho pequeno sabem bem como é difícil esse equilíbrio. Há toda uma agenda que precisa ser cuidadosamente planejada, quem vai ficar com filho para você poder namorar, se vai passar a noite, que horas buscar. Se o pai da criança é presente ajuda muito, mas às vezes isso é luxo. Com a criança há ciúmes, estranhamento, inseguranças (quando me separei meu filho tinha 5 anos, então o primeiro namorado após sofreu mais com isso). Ouvi falar que com homens que têm filhos o processo não é tão difícil... criar uma nova família, putz, fácil como um piscar de olhos!

Sei que há namorados fenomenais que lidam com essa confusão de boa e, aos poucos, vão abrindo brechas na rotina daquele lar. Mas há homens que competem por espaço que nem bichos e, infelizmente, topei com alguns assim. Ah, meu bom e velho "dedo ruim".

E eu nisso tudo? Vida pessoal praticamente zero e, com o passar do tempo, exausta com o excesso de demanda. Meu eu sumia. Depois de algumas tentativas e, reconheço, meio traumatizada, achei melhor dar um bom tempo pra mim. Tenho gostado.

Mas também penso se não sou parte de um fenômeno social maior. Na verdade, é cada vez mais comum encontrar mulheres que não têm o homem como centro da sua vida, aquele sonho principal a se conquistar. Muito se tem escrito sobre isso. Nas gerações mais novas esse desapego é ainda mais visível, que abarca também o direito à não-maternidade.

É um processo muito forte e crescente, ainda que sob constante ataque. Há as reações agressivas, que inclusive violentam e matam. Há a luta para resgatar o tempo em que os homens eram o centro de importância das nossas vidas. É o que faz a extrema direita tão atraente para os homens, como se vê no Brasil. Mas também há aquela reação sem má intenção, equivocada, mas legítima, de homens confusos quanto ao que esperar de nós, sobre qual é o seu papel em nossas vidas. Com esses podemos ter paciência e explicar. Mas só se valer a pena.

Certa vez um namorado me perguntou, numa DR: mas você, na sua idade (eu tinha uns 36), não namora para casar? Ele, aparentemente, me cobrava por planos! Na hora eu me assustei, fiquei sem entender, ou na verdade não quis encarar o que ele disse, porque era muito difícil ouvir aquilo de alguém que, eu achava, me conhecia. O fato é que, pra ele, eu era a mulher solteira, com filho, que não podia querer outra coisa a não ser ter um homem na sua casa e na sua cama (afinal já estava passando da idade). A pessoa, aliás com ideias progressistas, me via com as mesmas lentes do mundo que tanto criticava.

Neste ponto esclareço que gosto de namorar e sempre tive relacionamentos muito bons. Meus melhores parceiros foram grandes amigos com quem o sexo era excelente (incluindo  o dito cujo acima). Mas não necessariamente gosto de estar casada ou penso em envelhecer com um homem ao lado - sonho terrível por sinal.

Medo? Individualismo? Excesso de independência? Sim, de tudo um pouco, mas o pior é que nada disso seria criticável num homem – é bastante aceito inclusive. Pense naquela situação mais estereotipada que já vimos em filme ou na vida real: o homem preocupado com a carreira ou com o mundo e a mulher preocupada em se casar, ou em segurar o marido a qualquer preço?

Pois é, cada vez mais mulheres não se encaixam nesse padrão antiquado. Procuramos a felicidade por nossos meios, às vezes com o filho nos braços. E, fica a dica, topamos ótimas parcerias. Gostamos de amar, de dividir alegrias e problemas, da cumplicidade, de conhecer o outro por inteiro. Podemos ajudar, pegar na mão, segurar a barra nos momentos difíceis. Só não podemos torná-los, senhores, o centro de nossas vidas, de nossos planos e sonhos. Temos muito a fazer. Na verdade, um mundo a transformar.

Observação aos apaixonados e românticos: o amor tem explicações biológicas e sociais e, mesmo sendo o “amor romântico” uma invenção humana, não tem problema. É uma invenção bonita demais, desde que livre e sem imposições. Pode trazer beleza e segurança onde quase não há (esse mundo em que estamos). Que todo amor seja assim!

Comentários

  1. Muito bom esse texto, isso mesmo, outras prioridades na vida da mulher

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