Um pouco da história de militares e política (nossa sina)

Há uns anos tenho lido mais sobre História do Brasil. Justo quando comecei a perdê-lo,  mais comecei a buscá-lo. Estou longe de ser estudiosa de História mas, à medida que leio, procurando sempre fontes confiáveis, percebo duas coisas: como meu ensino escolar de História do Brasil foi raso e bastante herdado do regime militar (será que toda a minha geração foi assim?); e o quanto nosso passado e presente, apesar de não parecer, são partes íntimas da tumultuada história latino-americana.

Sim, somos parte desse subcontinente que parece que um dia vai se descolar lá de cima e ficar à deriva. Possuímos a mesma história de exploração e de violência, com breves períodos de trégua. A luta de classes aqui não é suave, não gera grandes conquistas e não tem perdão. A conciliação é sempre curta. Qualquer menor tentativa de independência econômica ou igualdade social dura pouco, não é permitida. Às claras ou não, sempre os grossos coturnos a nos tutelar. Democracia para poucos, fajuta, falsa, e sempre na corda bamba.

CAUDILHOS, CORONÉIS E TENENTES

É fato que em toda a América Latina há uma forte tradição de envolvimento militar na política, com raras exceções. Essa é uma distorção grave que vem do tempo das independências e do caudilhismo – líderes locais possuidores de terras, que cumpriram funções militares. Nos países irmãos, eles proclamaram independências e repúblicas.

No Brasil, gostem ou não, a proclamação da república veio com um golpe militar – no nosso caso, o Exército já era mais centralizado desde o período monárquico. Esse papel importante ajudou a construir a ideia dos militares como guias da nação diante dos conflitos sociais, com a missão de civilizar, levar “ordem e progresso”, tomar as rédeas de países em crise. Fruto do positivismo comum no século XIX (com vieses racistas e eugenistas), parece que essas ideias nunca foram superadas.

Durante um período da história latino-americana, militares e elites brancas proprietárias lutaram por seus projetos de países. No passado, a carreira militar era quase a única forma de ascensão social para classes mais baixas e, nos quarteis, foram surgindo muitas propostas de como governar as recentes nações.

Como um setor da elite política possuía poder econômico e outro possuía poder de guerra (e por vezes dinheiro), houve muita turbulência política, guerras civis, golpes, eleições tumultuadas. Surgiram projetos nacionalistas, estatizações, fascismos, populismos, alguns avanços sociais e, aqui no Brasil, Estado Novo, depois getulismo e trabalhismo – que eram contra o comunismo, porém se contrapunham ao entreguismo das elites quanto às riquezas nacionais.

A GRANDE PARANÓIA

Quando a luta entre blocos socialista e capitalista se acirrou no mundo, após a 2ª Guerra, ao meu ver as forças militares do continente praticamente perderam suas ideias próprias. Foram engajadas com tudo na luta anticomunista e pró-capital e, com apoio dos EUA, formularam a Doutrina de Segurança Nacional, claramente intervencionista. Hoje, ver e ouvir esses militares pançudos e grisalhos em postos do governo brasileiro é entrar numa máquina do tempo. Eles são os herdeiros caricatos dessa ideologia aplicada e alimentada por décadas (até hoje) nos quarteis.


Assim, os militares latino-americanos passaram a defender seus países das vontades políticas do seu próprio povo. Impediram revoluções ou reformas, derrubaram governos eleitos, assassinaram líderes populares, perseguiram partidos e movimentos civis, inclusive se associando ao tráfico de drogas para reprimir o povo no campo e nos bairros pobres.

É comum dizer que a história do nosso subcontinente é a história de golpes e interferências políticas dos militares. E não apenas no passado. Recentemente, as cúpulas das forças armadas apoiaram o golpe reacionário na Bolívia em 2019. Hoje, está claro que são parte do golpe anti-esquerda em vigor no Brasil desde 2016. 

As elites atrasadas e os militares continuam impedindo nosso aprendizado político via democracia. O capital não tem moral para defender a vida, o bem-estar social e a democracia. Nem os militares.

Obs.: como tudo na História, obviamente houve movimentos de exceção ao que contei. O Movimento Tenentista e o Chavismo, por exemplo, tiveram seu caráter progressista temporário (depois resultando em ditaduras). Na base militar brasileira também houve movimentos de esquerda e alas democráticas, expurgadas durante a ditadura de 64-85.


Como adoro listas, preparei essas aqui sobre o tema:



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